O ‘Obelisco do Piques’, ou
‘Pirâmide do Piques’ – nosso mais antigo monumento – é um nó cego no meio da cidade de S. Paulo. Construído ainda no reinado
de D. João VI, antes da independência, permanece repleto de enigmas, lendas e
histórias. Ninguém sabe direito porque foi erigido e o que homenageia. Já especulei
sobre este mistério em 2014, quando o monumento fez duzentos anos (clique e veja).
Todo mundo conhece o lugar, passam por
lá alheios, apressados e sem prestar muita atenção num item curioso e esquecido
que compõe este complexo e precisa ser ressaltado:
|| o painel de azulejos, que envelhece e se empana
na sombra da figueira centenária. ||Vamos examiná-lo de perto através de fotografias e ampliações de detalhes. As imagens do painel evocam a própria Ladeira do Piques nos seus dias de glória. Aliás, revisitar era uma boa mania do seu autor Wasth Rodrigues. Por causa dele guardamos muitas imagens raras da S. Paula que o progresso transformou.
O 'Largo
do Piques' sempre foi um dos portais de S. Paulo, por ele os Bandeirantes saíram
para inventar e inventariar o Brasil.
Entretanto, a partir da implantação das ferrovias, a rota perdeu importância. Os paulistas que iam para o interior, agora, partiam da Estação da Luz. Em consequência o Largo da Memória começou a decair e mudar de função, virou interligação entre o Centro Velho e os novos bairros residências da Consolação, Vila Buarque e Higienópolis.
Entretanto, a partir da implantação das ferrovias, a rota perdeu importância. Os paulistas que iam para o interior, agora, partiam da Estação da Luz. Em consequência o Largo da Memória começou a decair e mudar de função, virou interligação entre o Centro Velho e os novos bairros residências da Consolação, Vila Buarque e Higienópolis.
Certamente, por causa dessa função
pedonal, em 1919, na febre das modernizações paulistas, o espaço inteiro foi
remodelado. Um novo chafariz foi construído (agora apenas decorativo),
emoldurado por um magnifico painel, destacando e valorizando o velho
‘Obelisco’.
O novo conjunto foi cercado por um
vasto sistema de escadarias, em terraços, que cobriam a encosta inteira,
facilitando o travessia dos pedestres por esse desvão íngreme, encravado no
meio do novo mapa urbano da cidade. Deve ter ficado lindo, dos bancos era
cômodo e prazeroso apreciar a velha colina histórica (hoje obliterada pelos
grandes edifícios) iluminada pela luxuosa luz do por do sol.
O arquiteto responsável pela
restauração foi Victor
Dubugras, considerado por muitos o introdutor da Arquitetura Moderna na América
do Sul. Os desenhos dos azulejos foram obra de José Wasth Rodrigues, um dos
pintores que redefiniram a imagística paulista, e talvez o mais paulistano e
civilista deles todos.
E fácil encontra-lo
decorando dezenas de igrejas e palácios do começo do século XX. Por exemplo,
quatro pinturas logo na entrada da humilde Igreja das Almas (Capela De Santa Cruz das Almas dos Enforcados) na
Praça da Liberdade. Todas, curiosamente, relembrando templos demolidos de S.
Paulo: Igreja do Pátio do Colégio; Igreja dos Remédios; antiga Catedral da Sé e
a velha Capela dos Enforcados. Mais estranho, as três primeiras baseadas em
cópias de fotos de Militão Azevedo.
O ubíquo Wasth – junto com Guilherme de Almeida, o poeta – também foi autor do brasão de Cidade de S. Paulo, usado pela primeira vez na azulejaria que enfeita o Chafariz do Piques. Um modelo simplificado, sem as torres, os ramos de café e o belo dístico ‘non ducor duco’.
Fotografias e Ampliações:
Det. 1 – Tropa de mulas e burros dos tropeiros.
Det. 2 – Despedidas e reencontros de viajantes.
Det. 3 – Namoros, passeios e encontros em torno do chafariz
Det. 4 – Negociantes de escravos e mercadorias em geral
Brasão da Cidade de S. Paulo - Primeira utilização.
Painel de Azulejos em Dez/2015
Vista do Largo do Piques em 1860
Vista do Largo do Piques no fim do Sédulo XIX
Desenho do Projeto de Victor Dubugras
Um lugar lindo que, se fosse conservado, seria um oásis de paz no centro da nossa cidade.
ResponderExcluirHoje vc passa por lá cheira a urina e cheio de desocupados que dormem por lá. Dá dó de tanta degradação de Sampa.
ExcluirSabe, Wilson, o que mais me incomoda é o apagamento do nome do lugar da saga emocional de S. Paulo. Acho que o nome da estação de metro deveria ser Anhangabaú/Ladeira da Memória.
ResponderExcluirUma beleza Douglas... parabéns!!!!!
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário Tina Oliveira
ResponderExcluirFantástico...sempre tive informações deste lugar atraves de minha mãe que passava por ele quando menina a caminho da escola.
ResponderExcluirE um lugar mágico, muito da História de S. Paulo passou por ali.
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