Cinco anos atrás participei
de uma avaliação de equipamentos na Sala do Fernando Andrette, em São Roque.
Obviamente fiquei maravilhado com o espaço e com o setup.
Relendo
o depoimento constatei, espantado, que os termos utilizados eram os mesmos de sempre. Só mudam as comparações e metáforas, que dependem da vivência de cada audiófilo.
Acho que já gastamos nossos estoques de expressões de deslumbramento e louvação. Entretanto, numa nova audição, hoje, e com equipamentos completamente diferentes, talvez as frases fossem bastante semelhantes. E, nenhuma das apreciações seria falsa ou mentirosa.
Acho que já gastamos nossos estoques de expressões de deslumbramento e louvação. Entretanto, numa nova audição, hoje, e com equipamentos completamente diferentes, talvez as frases fossem bastante semelhantes. E, nenhuma das apreciações seria falsa ou mentirosa.
O depoimento está publicado na revista
Audio & Video n. 137, de agosto de 2008, e, para facilitar, reproduzido abaixo.
Testes na Sala de Áudio Fernando Andrette – 01/07/2008
Uma
sala de áudio construída com as melhores técnicas, competência e bom gosto.
Paredes e tetos de belíssima madeira clara, “isn't it good Norwegian wood?”
Com calculados e bem posicionados escaninhos de geometria variada para
controlar e induzir as respostas sonoras. Grandes painéis de tecido cinza
claro, acolhedores e repousantes, espalhavam-se por um ambiente amplo e bem
proporcionado, obedecendo as mais recentes recomendações acústicas. No fundo um
silêncio premeditado, doce, dócil e complacente.
Racks
turbinados com um trio de equipamentos Naim: CD Player CD 555, Pré Amplificador
NAC 552 e Power NAP500. Componentes e conjunto desenhados com robustez e
leveza, sobriedade e elegância. Projetados para extrair das gravações todas
suas potencialidades e intenções subjacentes. Processando e entregando como
resultado o mais orgânico, fiel e equilibrado som possível, devidamente
valorizado por um par de caixas Dynaudio Temptation, com cabos originais Naim.
Foi
isso que encontrei numa esplêndida manhã, com o Sol rompendo as derradeiras
brumas de uma colina nos altos de São Roque. O ar estava puro e fresco, a
hospitalidade do Fernando fraterna e calorosa. O paraíso talvez ficasse por
perto.
Obviamente
aquele era um espaço e um momento privilegiados, a conjunção da sala e dos
equipamentos resultava extraordinária, quase mágica. Encontrar similares da
mesma categoria não é um desafio pequeno, em qualquer latitude. Portanto,
compelido pelo desconhecimento de sistemas comparativos equivalentes e por
conveniências pessoais, conclui que os únicos paradigmas possíveis eram as
audições ao vivo, uma vez que sou um espectador contumaz de apresentações de
música, especialmente clássicas.
Iniciadas
as audições, as cerca de vinte cinco faixas, escolhidas criteriosamente,
ilustravam brilhante e didaticamente a metodologia de avaliação da CAVI. Cada
detalhe, cada tópico fartamente evidenciado, discutido e demonstrado.
Entretanto, diante do meu maravilhamento com a sala e os equipamentos, os
parâmetros de avaliação abandonaram a coerência da conceituação e enveredaram
para as zonas do deslumbramento e do assombro.
Logo
nas primeiras faixas dos CDs Genuinamente Brasileiro, volumes 1 e 2, o sistema patenteou
seus elevadíssimos atributos. Provou ser inteiramente possível salientar um
instrumento específico, enfatizando seu foco, recorte e ambiência, preservando,
contudo, a percepção integral da rica tessitura do conjunto.
A
amostra selecionada tinha um viés jazzístico, ou ‘bluseiro’, conforme a acepção
de Billie Holiday. O que foi um ganho adicional, porque, no geral, as gravações
desse tipo de música se ajustam melhor a sistemas sofisticados. São décadas de
aprimoramentos e contínuos refinamentos da engenharia de som para proporcionar
momentos memoráveis, generosamente evidenciados pela junção da sala e dos
equipamentos Naim. A dicção da Diane Schuur, os ínfimos tiques melódicos de
Harry Belafonte, as inusitadas experimentações instrumentais da Jaco Pastorius
Big Band e The Clayton Hamilton Jazz Orchestra, algumas, entre centenas de
preciosidades.
Meu
reino, contudo, está no mundo da Música Clássica, que, apesar de bem
comportado, tem suas peculiaridades. Nas execuções ao vivo, qualquer que seja a
sala, inevitavelmente, o som é um pouco sujo. Junto com a música ouvimos a
respiração da platéia, a constante acomodação das pessoas, a fricção das roupas
contra as poltronas, um murmúrio contido e perene. Ruídos de fundo que, como o
barulho das ondas, filtramos e acabamos por ignorar. Num espaço exemplar e com
bons equipamentos, sobretudo em faixas gravadas em estúdio, a sujeira é
eliminada, o som fica limpo e diáfano. Nossa audição é expandida, ganha
nitidez, mergulha mais fundo. Consegue um detalhamento mais granulado, tendendo
ao fractal. Passamos a explorar o silêncio nobre, esse onipresente e fugidio
elemento catalisador da música.
Com
a luxuosa ambiência garantida pela sala e pelos equipamentos, as peças
clássicas me encantaram. Em Debussy, pelo Claudio Arrau, a persistência prolongada
do som do piano era fascinante, as vibrações das cordas eram tácteis,
epidérmicas. Na Toccata & Fuge,
de Bach, com Tom Koopman, um majestoso órgão, tubo por tubo, das pequenas
cornetas em baixo às grandes tubas no alto, se levantou entre as caixas. Fomos
transportados para uma velha catedral europeia. No fim, Stravinsky, L´Histoire du Soldat e aquele espaço
soberbo ofereceram a melhor das regências de Boulez. Cada naipe, cada
instrumento, cada nota, cada intenção, magnificamente reproduzidas, dentro de
uma massa sonora consistente, todavia fluida.
Posso
assegurar que foi uma manhã de revelações, esta audição representou um ponto de
mutação das minhas avaliações de salas e equipamentos. Um salto quântico,
abriram-se novas dimensões. A escala foi largamente entendida, os valores mais
altos foram deslocados muito para cima. Depois dessa experiência estou convicto
que, em condições corretas, com salas e equipamentos excelentes, é possível
alcançar a música pura dos mundos platônicos, onde existe uma adequação sublime
ente os sons ouvidos e as reminiscências da música perfeita que cada um de nós
traz dentro de si.
Participei em 2 oportunidades de avaliações na sala do Fernando Andrette. O som nas duas ocasiões não era lá estas coisas. O que mais aborrece nestes encontros com ele, é que ele se porta como o dono absoluto da verdade, e quer porque quer, fazer os ouvintes acreditarem que apenas as suas observações são sempre as que valem. Tendencioso demais.
ResponderExcluirDor de cotovelo incomoda.
ExcluirO Sr. Andrette entende do assunto e possui equipamentos excepcionais; o que têm de mal nisso?
Att.
Alberto Cucio
Exatamente. Que a verdade seja dita, além de meramente se continuar espalhando uma mentira para agradar sempre ao mesmo "coro dos contentes". Andrette pode ser comparado a um "Napoleão" do setor do áudio no Brasil, em seus méritos e pecados. Assim como Napoleão, teve muitas realizações concretizadas, muitas de importância para o setor áudio-vídeo em nosso país. E também como Napoleão, teve atitudes de grande narcisismo, megalomania e manipulação política, ao se auto-coroar o "imperador do áudio" no Brasil, esta "terra de cego, onde quem tem um olho é rei". Sempre carreirista, Andrette avançou sua carreira com a truculência de um trator, cedendo a pressões comerciais, barganhando e negociando convenientemente com as marcas que teriam destaque em sua revista. Criou um veículo de comunicação para poder melhor exercer seu monopólio e influência sobre o setor.
ExcluirAlberto Cucio, você ainda tem muito o que aprender sobre alta fidelidade. O Fernando Andrette sempre colocou, e cada vez mais coloca, seus interesses comerciais acima da qualidade de áudio.
ResponderExcluirLi certa vez, alguns artigos do Fernando Andrette em sua própria revista AVM (onde mais poderia ele publicar?). Como engenheiro eletrônico (projetista de equipamentos e sistemas de controle) e músico amador (toco piano e flauta transversal) minhas sensações iam da ânsia de vômito à vontade de gargalhar tamanha a quantidade de baboseiras proferidas. Pródigo em adjetivos e metáforas, suas impressões não se sustentam em fatos técnico/científicos. Conclusão: uma baboseira que só serve para manter o culto dos pobres infelizes engolidos pela seita do “Áudio High End”. A igreja Áudio Video Magazine só serve aos interesses de seu Pastor, Fernando Andrette.
ResponderExcluirAmém! rs
ExcluirObrigado pelo comentário Angelo Fares Menhen.
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