A exposição 'Mestres do Renascimento no CCBB', passou por S. Paulo em 2013 e fez imenso sucesso. Gostei bastante da curadoria que selecionou exemplos perfeitos e didáticos dos vários 'renascimentos' diferentes que aconteceram simultaneamente por toda a Itália.
Deste evento evanescente quero ‘salvar’
um pintor brilhante e bizarro, Piero de Cosimo, que teve um quadro na mostra.
Suas madonas – pintou várias – são
soberbas, simples, e sublimes, porque têm cara e jeito de povo. São humanas e
maternais, estão sempre amorosas e carinhosas, absortas e atentas no bambino
santo. Mas, sobretudo, aprecio os detalhes, os ‘cacos’, os ‘easter eggs’
espalhados nas paisagens de suas pinturas.
Por exemplo, na obra exposta em SP, Piero de Cosimo enfeitou a Madona com um bonito e
rasteiro ‘puxadinho renascentista’, impavidamente levantado numa área de risco na encosta,
sujeito a deslizamentos e tragédias. Notícia pronta para os jornais populares.
Faz parte da espantosa e escamoteada coleção do MASP um ótimo quadro dele (parece que em restauração): Virgem com o Menino, São João Batista Criança e um Anjo. Esta obra preciosa me inspirou um conto paulistano, ambíguo e inesperado: <<< Madona de Norwegian Wood - clique aqui >>>
Na tela, faz quinhentos anos, um pássaro preto (o blackbird de Poe, dos Beatles e de Belchior) espera o momento propício para devorar uma lagarta.
Por essas e muitíssimas outras Piero de Cosimo era cultuado pelos
surrealistas.
Consta que colecionava defeitos e manias: era pirófobo, por isso só se alimentava de comida crua, exceto ovos, que devorava 50 por refeição, cozidos junto – nas mesmas panelas – com suas colas e tintas. Retraído e misógino, não gostava de conviver com mulheres.
Contudo e todavia, tinha gosto para 'donnas' bonitas, poque pintou uma das mais belas, inusitadas e intrigantes Cleopatras – a mais excitante e provocadora delas – com um colar de serpente e cabelos labirínticos. Sua musa foi a mais famosa top model da época, e de todos os tempos: Simonetta Vespucci, contra-parente do Américo da América.
A encantadora ninfeta morreu cedo, 23 anos, mas foi tocada e acariciada por todos os pincéis dos grandes mestres renascentistas. Esta naquele grupo de mulheres perfeitas que nunca consegui decidir qual a mais bonita.
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