segunda-feira, 23 de setembro de 2013

TRILHA PEABIRU NO CENTRO DE S. PAULO

Todo mundo já ouviu falar do Caminho de Pearibu, a trilha Inca, pré-colombiana, histórica ou mística, de quase mil anos, que cruza a América do Sul  desde Cusco, Peru, até São Vicente. As histórias dizem que foi construída pelo lendário sábio Sumé. Uma entidade que pode ser tudo, desde alienígena do passado até Imperador Inca. Porém, os jesuítas, espertamente e por motivos religiosos, aproveitaram e rebatizaram a estrada como Caminho de São Tomé, numa paronímia duplamente sacana: aproveitaram o som do Sumé a fama andarilha do apóstolo. 

Talvez S. Paulo seja uma das maiores cidades do mundo poque essa  trilha mítica alimenta seu coração.



Peabiru podia significar duas coisas em Tupi: (a) ‘caminho para os Incas’ (pe – caminho + Biru – o nome dado pelos Incas ao seu território); ou (b)  ‘caminho de grama amassada’ (pe – caminho + abiru – grama amassada), por causa da gramínea especial que pavimentava os 5.000 quilômetros de trilhas contínuas de 1,4 metros largura.

O local que o Padre Nobrega escolheu para fundar o Colégio dos Jesuítas era um lugar privilegiado nesta ligação transoceânica, ficava num ponto estratégico do caminho. Depois da exaustiva subida pela Serra do Mar, a colina mesopotâmica – entre rios  era ideal para uma parada de descanso e preparação, antes de se embrenhar novamente pelas matas tenebrosas e soturnas do interior. Um promontório facilmente avistável e defensável, na confluência dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. 

Posição tão conveniente que – a História mostra – a partir de S. Paulo e através da trilha Peabiru, e suas ramificações, foi possível desbravar o Brasil inteiro.

Mas, por onde passava a Peabiru no Centro de São Paulo?

A maioria dos autores indica que vinha do Ipiranga, subia por entre a Av. Rangel Pestana e Rua Tabatinnguera; seguia pela Rua do Carmo até o Pátio de Colégio; entrava na Rua Direita, descia a Rua do Ouvidor e cruzava o riacho Anhangabaú em direção à Ladeira da Memória. Depois, avançava pela Rua Quirino de Andrade, percorria as Avenidas Consolação e Rebouças, Então atravessava o Rio Pinheiros e prosseguia para o interior em direção a Itu.

Quem sabe o Obelisco dos Piques (clique)  o monumento mais velho de S. Paulo  seja na verdade uma marco à beira do trilha milenar que os erráticos planejamentos do acaso (ou talvez não?) colocou, exatamente, num ponto de transição da Peabiru, onde a trilha se prepara para entrar pela mata fechada, no antigo mar de colinas parecidas e enganadoras. 

Talvez devêssemos fazer uma peregrinação periódica por este caminho, para ouvir o coração de S. Paulo bater. Quem sabe para lembrar quem somos.


P.S.
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Nota 1 – As informações para este artigo e, principalmente, a rota da Trilha de Peabiru pelo Centro de S. Paulo foram colhidas no excelente livro de Jorge Caldeira: 'O Banqueiro do Sertão, Vol. 1 - As Mulheres no Caminho da Prata; e, Vol. 2 - Padre Guilherme Pompeu de Almeida', da Editora Mameluco.

Nota 2 – Durante a última revisão desta postagem, por um lapso, várias comentários de leitores para este artigo foram perdidos. Peço desculpadas a todos.


2 comentários:

  1. Douglas,

    E a igreja de Santo Antonio, na Praça do Patriarca. Até o padre Manuel da Nóbrega falava dela.

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  2. Excelente pergunta, muito obrigado por formula-la.

    Talvez você tenha razão, fora a capela do Pátio do Colégio, talvez a Igreja de Santo Antonio, na Praça do Patriarca, seja o templo remanescente mais velho da cidade; isto é, a igreja que permanece por mais tempo no lugar de sua fundação.

    Entretanto, no artigo ‘SP – Onde estão nossas construções coloniais?’, a questão enfoca os edifícios preservados. Neste caso, segundo as fontes que consultei (por exemplo: 'A Capital da Solidão' – Roberto Pompeu de Toledo e 'Carmo, Patrimônio da História, Arte e Fé' – Raul Leme Monteiro), a igreja da Praça do Patriarca sofreu tantas intervenções e restaurações que, do prédio, além da figura, pouco sobra de autenticamente colonial. Existe claro arte colonial antiga na Igreja, mas muito pouco resta da construção.

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