É especial porque seu trajeto segue exatamente a crista do espigão que
separa o vale do Rio Pinheiros do vale do Rio Tiete. E é espetaculosa por causa
das maravilhosas vistas que oferece dos dois lados dela, todas suas travessas
são ladeiras íngremes.
Tem 2300 metros, começa na Vila Romana (fim da Rua Heitor Penteado) e
vai até o Cemitério da Lapa.
Eu não sabia nada disso quando, entre 15 e 16 anos, carregado por uma
mania maluca insistia em caminhar desde a Lapa até a Cerro Cora, seguindo a
serpentina Rua Tonelero. Mesmo sob tortura minha memória jamais confessou o
porquê dessa escolha espalhafatosa. Hoje – gentileza do Google - sei que percorria
1600 metros com 50 de elevação, mas nas minhas nebuladas lembranças a distância
era mais longa e a subida muito mais inclinada.
No fim da década de 60 ainda era uma rua típica de bairro, a principal
da Vila Ipojuca, de casas simples e com muitos portugueses. Talvez o nome
exótico fosse o motivo de minha andança e principal chamariz. ‘Tonelero’,
prometia uma fábrica de barris em pleno funcionamento que nunca encontrei.
Havia também a bela Igreja de São João Batista, de tijolo a vista, que vigiava
o percurso.
Atualmente a Rua Tonelero é famosa porque possui uma espécie de Capela
Sistina tacanha, fica no fim dela o mais antigo ponto de ônibus da cidade, com
o teto todo decorado.
Recordo dele, porém nunca foi a causa eficiente de minha peregrinação.
Quando chegava à Cerro Corá descansava alguns minutos contemplando a amplitude
dos horizontes sem fim e voltava, para, desconfio, a demanda do verdadeiro graal
de minhas cruzadas.
Meus passeios acabavam sempre na Biblioteca Municipal da Lapa, na Rua
Catão, onde minha missão era copiar – cada dia um pouco - os 7 mil versos dos ‘Quatro
Quartetos’ de T.S. Eliot, porque não conseguia encontrar, nem tinha
dinheiro para comprar o livro.
A Geografia emocional tem muito mais do que três, quatro ou cinco
dimensões, porque precisa guardar todos os mundos paralelos que trazemos dentro
de nós.
Transcrito do Facebook
ResponderExcluirwILSON M. COLOCERO - Ótimo relato! Eu me senti trafegando pela Tonelero até o fim (em geral paro na pracinha para ir ao Vituccio saborear uma das mais verdadeiras pizzas napolitanas de São Paulo).
Foi bom ter companhia Wilson M. Colocero
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