terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Capela Sistina - Ruas Tonelero/Cerro Corá


A Rua
Cerro Corá é especial e espetaculosa. Com toda certeza os apressados motoristas e pedestres que diariamente transitam por ela não se dão conta da curiosa peculiaridade daquela artéria na geografia de S.Paulo.

É especial porque seu trajeto segue exatamente a crista do espigão que separa o vale do Rio Pinheiros do vale do Rio Tiete. E é espetaculosa por causa das maravilhosas vistas que oferece dos dois lados dela, todas suas travessas são ladeiras íngremes.

Tem 2300 metros, começa na Vila Romana (fim da Rua Heitor Penteado) e vai até o Cemitério da Lapa.

Eu não sabia nada disso quando, entre 15 e 16 anos, carregado por uma mania maluca insistia em caminhar desde a Lapa até a Cerro Cora, seguindo a serpentina Rua Tonelero. Mesmo sob tortura minha memória jamais confessou o porquê dessa escolha espalhafatosa. Hoje – gentileza do Google - sei que percorria 1600 metros com 50 de elevação, mas nas minhas nebuladas lembranças a distância era mais longa e a subida muito mais inclinada.

No fim da década de 60 ainda era uma rua típica de bairro, a principal da Vila Ipojuca, de casas simples e com muitos portugueses. Talvez o nome exótico fosse o motivo de minha andança e principal chamariz. ‘Tonelero’, prometia uma fábrica de barris em pleno funcionamento que nunca encontrei. Havia também a bela Igreja de São João Batista, de tijolo a vista, que vigiava o percurso.

Atualmente a Rua Tonelero é famosa porque possui uma espécie de Capela Sistina tacanha, fica no fim dela o mais antigo ponto de ônibus da cidade, com o teto todo decorado.

Recordo dele, porém nunca foi a causa eficiente de minha peregrinação. Quando chegava à Cerro Corá descansava alguns minutos contemplando a amplitude dos horizontes sem fim e voltava, para, desconfio, a demanda do verdadeiro graal de minhas cruzadas.

Meus passeios acabavam sempre na Biblioteca Municipal da Lapa, na Rua Catão, onde minha missão era copiar – cada dia um pouco - os 7 mil versos dos ‘Quatro Quartetos’ de T.S. Eliot, porque não conseguia encontrar, nem tinha dinheiro para comprar o livro.

A Geografia emocional tem muito mais do que três, quatro ou cinco dimensões, porque precisa guardar todos os mundos paralelos que trazemos dentro de nós.



2 comentários:

  1. Transcrito do Facebook
    wILSON M. COLOCERO - Ótimo relato! Eu me senti trafegando pela Tonelero até o fim (em geral paro na pracinha para ir ao Vituccio saborear uma das mais verdadeiras pizzas napolitanas de São Paulo).

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  2. Foi bom ter companhia Wilson M. Colocero

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