terça-feira, 16 de abril de 2013

CD E HI-RES – NÚMEROS E COMENTÁRIOS


Nas conversas entre audiófilos sempre emerge um assunto controverso e aberto a discussões: Vinil versus CD. Quais as características, vantagens e desvantagens de cada mídia? A pendência entre as duas turmas é antiga, interminável e permanece num empate perpétuo. Existem bons argumentos dos dois lados.

O Vinil é um mundo à parte, cheio de magia e encantamento, para poucos e raros. Quando ao CD, nos últimos tempos apareceu uma nova opção muito interessante, o Hi-Res – música digital de alta resolução; de certa forma uma evolução, considerando que o CD é a origem da música digital.

Trata-se da utilização de arquivos digitais de áudios contendo músicas codificadas em altas e altíssimas resoluções, capazes de operar com volumes de dados varias vezes maiores do que o CD redbook (a norma técnica de armazenamento no Compact Disc criada junto com o mídia três décadas atrás). Como o Hi-Res exige grande capacidade de processamento, para tocar esta nova mídia é preciso ou um computador, ou aparelhos que tenham um computador embutido.


Os arquivos Hi-Res são uma opção crescente entre os audiófilos, assim, apesar dos riscos implícitos, o propósito deste texto é discutir essa nova alternativa: adiantando as informações básicas e avançando algumas considerações técnicas.

Informações

A idéia é simples. Foram escolhidos, a partir de um Media Server (base de dados de arquivos digitais), dois pares de discos contendo as mesmas gravações: (a) um par em CDs normais, padrão redbook, com resolução de 44 hKz/16 bits, ripado com EAC-Exact Audio Copy (programa clássico de cópia de CDs em  arquivo); e (b) outro par em arquivos Hi-Res, adquiridos na HDtracks (www.hdtracks.com). Com base nos quatro discos foi montada uma tabela para comparar e discutir as características e peculiaridades dos arquivos digitais resultantes, em CD e Hi-Res.

Antes de continuar, desculpem os especialistas, mas é preciso dois esclarecimentos técnicos.

O primeiro é sobre os codec’s, que são softwares de codificação e decodificação de músicas e imagens. Todo arquivo de música digital tem um codec associado a ele. Por opção técnica, na CDteca Digital utilizada, os arquivos são guardados em FLAC, um codec amplamente utilizado. Existem centenas de codec’s (FLAC, AIFF, MP3, WAV e outros), a opção por FLAC foi por causa da facilidade de conversão e desconversão, sem perda de qualidade (lossless), e por economia de espaço. Em consequência, todos os números apresentados são relativos a arquivos tipo FLAC.

O segundo ponto é sobre resolução. Geralmente os arquivos digitais são codificados com base em dois parâmetros: taxa de amostragemsample rate - medida em kHz (quilohertz) e qualidade da amostragembits per sample - registrada em bits. Assim, temos doze principais densidades de resoluções: os múltiplos de 44 (88 e 176 kHz); e os múltiplos de 48 (96 e 192 kHz). Combinadas com 16 ou 24 bits per samples, a tabela de combinações é a seguinte:

- 16 bps:
·        44 kHz / 16 bits – 88 kHz / 16 bits – 176 kHz / 16 bits
·        48 kHz / 16 bits – 96 kHz / 16 bits – 192 kHz / 16 bits
- 24 bps
·        44 kHz / 24 bits – 88 kHz / 24 bits – 176 kHz / 24 bits
·        48 kHz / 24 bits – 96 kHz / 24 bits – 192 kHz / 24 bits

Obviamente são possíveis resoluções muito mais densas, porém, raramente estão disponíveis para venda ou download.

Importante: no mercado, tudo que for superior a 44 / 16 (CD padrão redbook) é considerado Hi-Res.

Voltando aos quatro discos escolhidos para comparação. O primeiro par é Diana KrallThe Girl In The Other Room, na versão CD padrão, 44/16; e em Hi-Res médio, 96/24. O segundo par é Bill EvansWaltz for Debby, na versão XRCD (CD redbook numa codificação otimizada); e em Hi-Res agressivo, 192/24. O quadro comparativo resultante é riquíssimo em informações e constatações.



Considerações

Sobre a qualidade artística dos CDs, ambos são excelentes e insistentemente recomendados, em qualquer resolução. Especialmente Temptations, a terceira faixa do CD da Diana, bom para testar equipamentos.

Tecnicamente, a principal constatação (linha 9) é que o tamanho do arquivo cresce fortemente à medida que aumenta a resolução: 3.62 vezes de CD para 96/24, e 6,05 vezes de CD para 192/24. Do CD para qualquer Hi-Res típico, a expansão é quase geométrica, porque dois fatores afetam o resultado: a quantidade de amostragens – sample rate – que vai de 44.100 até 192.400; e o tamanho das amostragens – bits per sample – que pula de 16 para 24. Entre duas resoluções Hi-Res (96 e 192, por exemplo) o crescimento é somente aritmético (células d8 / b8 = 1,94), porque ambas as resoluções já usam 24 bits.

Certamente, esse aumento expressivo no tamanho dos arquivos tem conseqüências graves no processamento das informações, são mais dados para transferir e calcular. Historicamente, um convênio entre os fabricantes aliado às práticas de mercado sempre desestimularam o aumento do tamanho dos arquivos, basicamente por dois motivos. Um, as faixas de um CD convertidos, por exemplo em 88/24 (um Hi-Res comportado), já não cabem dentro da mídia física padrão, o Compact Disk, que tem um limite médio de 700 Mb. Dois, existe uma imensa base instalada de CDPlayers, inclusive alguns aparelhos que ícones da Audiofilia, que só leem Campact Disc, o CD padrão.

Entretanto, as perguntas que ululam na tabela são as seguintes: o aumento do volume de informações resulta num som de melhor qualidade? Na mesma proporção? As respostas, como na maioria das questões do mundo real, podem ser simples, múltiplas ou complexas. Na resposta complexa é difícil se aventurar, seria preciso montar um seminário de especialistas. A resposta simples é positiva e direta: sim, melhora. Porque, em teoria, quando temos mais informações podermos chegar a resultados de melhor qualidade. A resposta múltipla é dúbia, depende muito da solução adotada, do DAC utilizado, da transferência de dados, da capacidade de processamento e muitas outras coisas.

Então vale mesmo a pena investir em setups para arquivos digitais como fonte de música? Certamente, áudio por computador tem atrativos tentadores. Um ponto forte é a facilidade de uso: a capacidade de pesquisar, armazenar, manipular, acessar e recuperar músicas aumenta exponencialmente. Outro ponto importante é a possibilidade de migrar tudo para o mundo da Informática, tanto as fontes como os leitores HI-Res habitam o mesmo ambiente, logo fica natural a interação com a Internet. Enquanto estamos ouvindo uma música, podemos, imediatamente, ter acesso a todas as informações existentes sobre a música na rede mundial. O terceiro ponto, talvez o mais importante e decisivo, é que os arquivos digitais como fontes ignoram as restrições e os limites do padrão redbook, podem usar qualquer resolução, qualquer codec, qualquer suporte físico escolhido (pendrive, disco rígido etc.)

Observem que, entre as vantagens, não esta inclusa a melhoria da qualidade sonora, talvez, à médio prazo, seja uma aposta segura.

Atualmente investir em setups digitais é recomendável apenas para quem privilegia a facilidade de acesso, armazenamento e manipulação das músicas. Ou para quem busca portabilidade e interação do seu acervo com outras mídias. Ou para quem topa trocar o prazer de manipular as capinhas pela facilidade de pesquisa, inclusive na Internet. Em termos audiófilos, só faz sentido apostar nos setups digitais se houver uma aposta paralela nos arquivos de alta resolução. Porque, na reprodução do CD padrão redbook, os equipamentos tradicionais já chegaram muito perto do topo, é difícil um setup digital ir além.

Uma contatação: entre os arquivos de alta resolução, atualmente, os de 88/24 e 96/24 tocam melhor. Talvez nestas faixas médias de resolução as indústrias têm maior domínio da tecnologia. Nas resoluções maiores, 176/24 e 192/24, as experiências ainda são reduzidas, e os resultados estão menos maduros e comprovados.

10 comentários:

  1. O André - ||TECO|| no HTForum - é um dos mais ativos audiófilos no caminho CpA (Computador para Áudio). Assim, conforme sua sugestão, vale á pena transportar para este espaço seus comentários sobre o assunto.

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    Salve Douglas,

    Acho que a parte mais interessante dessa discussão é justamente a qualidade do resultado conseguido. Sabendo que os audiófilos mais antigos e tradicionais contestam a qualidade obtida. Em termos de comodidade o computador é indiscutivelmente superior em todos aspectos ao CD player.

    Fiquei esperando ler em seu artigo um teste subjetivo sobre a diferença qualitativa percebida entre um CD normal e arquivo de música HiRes tocadas no seu sistema particular, e quem sabe em outros sistemas.

    Certa vez fizemos um teste comparativo (incluindo exatamente a música da Diana Krall citada) na casa de um dos maiores audiófilos e entusiastas do Brasil, e o CD player Scarlatti (tocando 16/44), apresentou vantagem sobre um macbook tocando a mesma música com 6x mais resolução (HDTracks).

    Mas seria razoável nesse teste concluir que cd player seria melhor do que um computador? Parece-me óbvio que não

    Minha tese em se tratando de CD player vs computador, é que tudo a mesma coisa. Explico: tudo é processamento no domínio digital. Tanto faz se os bits vieram de uma mídia ótica ou de um arquivo armazenado em HD, já que os bits serão processados do mesmo jeito pelo player. Ambos possuem capacidade Hires, sendo que no CD player denominou suas mídias HiRez de SACD.

    A diferença hoje entre Cdplayer e computador está no aspecto construtivo (assim como ocorreu no teste em que um cd player com hardware mais refinado foi superior ao um macbook comum). As principais empresas HiEnd de players começaram há poucos anos a dar atenção a este tipo de solução que sofreu bastante preconceito no mundo audiófilo (imagino que parte desse preconceito se deu aos bons resultados obtidos a baixo custo)

    Essa discussão irá tomar bastante corpo quando for testado o Aurender W20 (computador Hiend especifico para áudio a ser lançado em breve em parceria com a dCS) comparado em iguais condições ao transporte do Vivaldi.

    Abraços

    ||TECO||

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  2. ||TECO||

    No blog Paulistando a ideia é juntar artigos de documentação, exploração e expansão do escopo da sutil arte da Audiofilia, escritos de forma mais abrangente e conceitual. Nesse sentido, tento restringir ao máximo (e não é fácil) as opiniões audiófilas meramente subjetivas.

    Assim, como o artigo ‘CD E HI-RES – NÚMEROS E COMENTÁRIOS’ foi a origem da seu post, e como respeito muito sua trajetória audiófila, transcrevi seus comentários para o Blog e vou também copiar lá esta resposta. Entretanto, entendo que é aqui que devam acontecer as discussões, um espaço livre e aberto, sem necessidade de ‘autorização’ para publicação.


    1 - CD (redbook)

    a1) Todo arquivo digital precisa passar por um DAC para virar música. É no DAC que acontece o momento mágico, sublime, complexo, caótico e quântico da transubstanciação do sinal digital em impulso analógico.

    b1) Talvez (e apenas simplificadamente) a leitura de dados é o lado fácil da equação da conversão digital-analógica. A fase difícil e decisiva é a conversão em si, nela estamos muito além da Ciência Newtoniana Clássica; nessa etapa toda a Teoria do Caos e a Teoria da Incerteza ainda são insuficiente para explicar o que acontece. Lembram-se do artigo ‘AUDIOFILIA, TEORIA DO CAOS E BORBOLETAS’ no Blog? Então basta mudar a química de algum dos componentes para mudar inteiramente o som.

    c1) Todo grande fabricante de CDPlayer (dCS, McIntosh, AR e muitas outros) domina esta arte faz mais de 25 anos, portanto, são completamente capazes de produzir excelentes soluções. Fabricam ótimos e excelentes equipamentos para tocar CD redbook), as melhores e mais interativas opções do mercado.

    d1) Apenas algumas soluções de CpA, considerando computador + DAC, conseguem se equiparar aos melhores players.


    2 - HI-Res

    e2) Entendo que hoje vivemos um momento anômalo, de transição, poucos DAC – lembra, o cálix da transubstanciação, o ponto mais importante do processo – foram originariamente projetados para trabalhar com arquivos de alta e altíssima resolução. Mesmo que tenham os inputs e protocolos necessários será que internamente foram dimensionados, calculados, concebidos para trabalhar e tirar o máximo do mair volume de dados?

    f2) Minha resposta não é enfaticamente positiva. Num palpite subjetivo audiófilo (?!), nas várias soluções que ouvi (estava também na casa do Jimmy, o melhor teste que participei) as resoluções 96/24 tocam melhor que as 192/24 e maiores. Mais ainda, as mídias de 44/24 (só mudou o deep bit) toca quase igual a de 96/24.

    g2) Mas, sou como Bernard Shaw, acredito que a esperança é melhor aposta que a experiência, assim, por curiosidade e facilidade de uso, desde 3 anos atrás, mudei minha rota, joguei todas as minhas fichas na música por arquivos digitais. No meu caso, com enfase na aquisição de midia HI-Res.

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  3. Música digital, gravada ou reproduzida, CD's ou Hi-Res, é totalmente manipulada pelas infinidades de recursos que a música digital oferece. Ora, se manipulou, então alterou o que de fato foi captado no momento da gravação. Isso não é alta fidelidade, e sim, enganação aos nossos ouvidos.

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  4. É uma verdade incontestável. Acontece antes e depois do registro.
    Muito obrigado pela atenção.

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  5. A frase do "TECO": "Em termos de comodidade o computador é indiscutivelmente superior em todos aspectos ao CD player." não faz o menor sentido, pois o computador dá tanto ou mais trabalho que um CD player. No CD player o trabalho é sempre o mesmo. Já no computador, você tem tantos recursos disponíveis para tocar ou alterar a mídia gravada, que dá muito mais trabalho que um simples CD player, e com resultados muito piores.

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  6. Quadro comparativo, CD, XRCD e Hi-Res.
    Os números apresentados impressionam. Mas não correspondem à verdade dos fatos. São só números. O que vale é a qualidade final da reprodução, não medida em números.
    No caso da Diana Krall a mídia original da gravação, seja qual for, tinha um número finito de amostragens, mas um número infinito de manipulações, tanto pela gravadora, quando pelos usuários de sistema Hi-Res. Daí as versões diferentes. Pura enganação.
    No caso do Bill Evans, pior ainda, pois a mídia original foi um tape gravado em 1961 e lançado em LP. Nas edições CD e Hi-Res deste título, a manipulação não encontra limites e só serve para estragar a qualidade original da gravação em tape.
    A atual indústria da música quer exatamente isso, promover a confusão e o caos entre os usuários.
    Alguns usuários já perceberam isso, por isso estão migrando para o LP.

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  7. Como iniciante nesse mundo, prefiro beber direto da fonte ou pelo menos o mais perto delam e abracei o bom e velho disco. Não gosto de entrar nessas discussões do que é melhor ou pior. Tenho um consideravel coleção de CD´s e alguns SACD´s. Acredito que ainda estamos no começo dessa revolução digital em alta definição. Mas o grande problema, como foi comentado acima, é a manipulação que as gravações originais sofrem até chegar aos nossos ouvidos. Nunca sabemos pelo que passou. Quem sabe quando isso vier descrito no encarte do CD ou nas especificações da faixa HD o pensamento de muita gente mude.
    Saudações.

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  8. Rafael,

    Concordo com quase todos os argumentos e respeito quase todas as posições, nas conversas repito sempre a mesma desculpa: o velha, desgastado e meio encabulado: excesso de preguiça. Tenho 3000 CDs. Literalmente, existem 3000 mídias físicas nas minhas prateleiras, todas ripadas, cuidadosamente tagueadas e guardadas num Media Server profissional. Leva dois minutos para localizar qualquer música. É um discurso de adicto, mas é o único que tenho.

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  9. Douglas, se você leva 2 minutos para localizar qualquer música, então este seu Media Server profissional não ajuda em nada. Só atrapalha. Não levo mais de 15 segundos para localizar qualquer LP ou CD na minha coleção de quase 5000 títulos.

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  10. Muito obrigado pela leitura e comentário.

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