Quando findou a chuva primaveril na beira do Lago Genebra, em Villeneuve, depois de Montreux sai para passear. Encontrei Oskar Kokoschka, o pintor noivo da ‘Noiva do Vento’.
Uma figura incongruente que vendeu tudo que tinha para comprar farda, espada, cavalo e ir para a guerra. Voltou ferido, perdeu tudo: a razão crítica e prática, a alma e Alma (sua amante, viúva de Mahler). Só lhe restou a faculdade de juízo estético. Curou a dor de cotovelo dormindo com uma boneca cópia exata da amada.
Estava bidimensional e olhava fixamente para o lago.
Perguntei:
‘– Como é a vida assim, plana e dividida?'
Respondeu dúbio e desacostumado da fala:
‘– É boa, a gente vê os dois lados com clareza, esquerda, direita, sem zona cinza. Têm momentos na História que isso é imprescindível.'
Concordei. Calados, juntos, olhamos longamente a espelhada superfície do lago saciado de chuva.
Cansado do silêncio me despedi e fui embora. Oskar ficou secando, atento ao vento do tempo.
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